quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Analisando Esquadrão da Moda



Qualquer um que me conheça um pouquinho sabe que eu tenho um vício que eu assumo quando estou de férias: assistir todas as tardes o programa de moda “Esquadrão da Moda”. O programa seleciona mulheres que se vestem de maneira inapropriada para sua profissão e/ou para seu tipo de corpo, e o seu vestuário é totalmente descartado e renovado com um cartão de crédito de 5.000 dólares, mas a pessoa tem de seguir regras sobre roupas que os apresentadores mostram no inicio. Eu sou uma entusiasta porque os apresentadores (Stacy London e Clinton Kelly) conseguem falar de feminilidade sem recorrer ao estereótipo do gênero. 
       
                Apesar do que acabo de destacar, é muito complicado, mesmo com as melhores atitudes, ter um programa sobre “o que não vestir” sem trazer à tona, por vezes, do assunto delicadíssimo: o que uma mulher deveria vestir.
                Essa questão surge com força no episódio em que a convidada é Vandy C. – uma organizadora de eventos que é uma fanática pelo time Irish, da universidade Notre Dame e, portanto, para ela, todo o seu vestuário representa o seu gosto e a sua personalidade (moletons do Irish, carteiras do Irish, sapatos do Irish, etc) que, com certeza, não correspondem àquilo que se tem como feminilidade.
                No momento que essa personagem surge para ser despida em público, visto que os apresentadores apontam defeitos em todo o seu guarda-roupa para depois jogá-lo todo fora (em uma lixeira posicionada no estúdio do programa), meu interesse vai além do normal, além do superficial entretenimento: será que eles vão usar como argumento “você é mulher, então você precisa se vestir de acordo”?
                Eis meu relato sobre o programa:
                A Vandy C. ao ver que todo o seu vestuário está a ser ridicularizado por Stacy e Clinton, ela se posiciona da seguinte maneira: “eu sou uma garota, mas eu gosto de cerveja e futebol”; então, se alguém do gênero feminino possui um gosto usualmente relacionado aos homens, ela precisa estar a altura dessa identificação? Ela, por gostar de cerveja e futebol, tem de se vestir como um homem? Vejo aí a sua contradição, pois essa personagem tem bastante orgulho de não ser mais uma mulherzinha, que ela vai além desse estereótipo de “como uma mulher deve ser”, mas, para tanto, ela necessita estar no estereótipo de “como um homem deve ser”: ter vários artigos do time que é apaixonado, não se importar com a aparência e beber muito. Ela não realmente precisa, contudo, ser nenhum dos dois! Ou melhor, (intencionalmente indo longe do número binário), nenhum dos três! Como ato obstinado em ir além do sistema opositivo de comportamento normativo, ela não precisa se preocupar em se afirmar como sujeito tendo como meta ir ao universal, ao homem, enfim. Realmente o entendimento do comportamento do homem é de uma certa universalidade e, me permitindo à ousadia, aos princípios iluministas sobre a humanidade, mas, como mulher, se ela faz isso, como já está marcada como diferença, destoa e não atinge o além-estereótipo – pior, ela será chamada de mulher-machinho, termo bastante usado no Brasil, isso se não perguntarem se ela é homossexual. Ela também não precisa, já que já está marcada como diferença, ir de acordo com o que entendemos por mulher e seguir as normas do comportamento feminino. Não é preciso estourar o cartão de crédito do marido, trazer a sogra para casa, nem bater o carro (apesar do que a campanha da HOPE acha) para expressar a sexualidade feminina. Ela também não precisa assumir um ato político de ser feminista para realizar esse deslocamento do sistema binário. Seja apenas essa salada, pois se se assume em um determinado local ético-político, é preciso corresponder com determinadas atitudes, ter determinada identidade cultural – coisa que, como mulher, estamos CANSADAS de ter.
                Ao final do programa, continuei fanática pelo único programa de televisão em que eu aprendo sobre moda sem me sentir fútil.

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